O Dia Mundial da Água é celebrado anualmente, no dia 22 de Março. Surgiu no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Ambiente, em 1922. Esta data pretende alertar os governos e a população da urgente necessidade de adotar medidas e estratégias para preservar a água. Este recurso tão valioso e importante para o planeta e para o ser humano, está a ser gravemente afetado pela perigosa ascensão das alterações climáticas.
A gestão da água tem influência em diversos setores, tal como o setor da saúde, alimentação, energia, tarefas e abastecimento doméstico e setor industrial.
Apesar de todos eles terem a sua devida importância, hoje vamos falar sobre a relação entre os alimentos e a pegada hídrica. Vamos, igualmente, acrescentar algumas informações sobre a escassez de água em Portugal e no mundo e de que forma as alterações climáticas promovem esta escassez.
Esta é uma problemática que merece a nossa melhor atenção. Não apenas no Dia Mundial da Água, mas também durante o ano. Devem ser implementadas práticas que ajudam a evitar o seu desperdício. Afinal, não queremos alcançar um ponto sem retorno.
Factos sobre a água no planeta
O que sabemos, afinal, sobre a água? Temos acesso a alguns dados mais relevantes que ajudam a responder a esta questão, nomeadamente:
- O volume total de água no planeta Terra é de 1.4 mil milhões km3. Os recursos de água doce rondam os 35 milhões km3 (cerca de 2.5% do volume total de água).
- Destes 2.5%, cerca de 24 milhões km3 (ou 70%) estão em forma de gelo (zonas montanhosas, Antártida e Ártico).
- 71% da superfície da terra é coberta por água;
- 70% da água doce é utilizada na rega, 22% na indústria e 8% no uso doméstico.
- Em 60% das cidades europeias com mais de 100.000 habitantes, a água do solo está a ser usada de modo mais rápido do que a sua restituição.
Alterações climáticas | água | impacto do ser humano | alimentos
Alterações climáticas: o grande impacto nos recursos de água
Portugal tem enfrentado uma grave escassez hídrica. As alterações climáticas estão a agravar esta situação. Vemos invernos cada vez menos chuvosos e verões cada vez mais quentes e longos.
Um relatório desenvolvido pela WWF e a ANPIWWF aborda os “Impactos das Alterações Climáticas na Pensínsula Ibérica”. Este relatório dá-nos a previsão de que os próximos anos serão cada vez mais difíceis e sem certezas quanto à capacidade de assegurar que os rios, aquíferos e reservatórios ibéricos disponham de água suficiente.
Ainda no mesmo relatório, podemos perceber que as alterações climáticas poderão impactar os ecossistemas, alterando a sua quantidade, qualidade e recursos de água disponíveis. Apesar de serem impactos complexos e difíceis de prever, alguns deles incluirão:
- Variações no volume e sazonalidade e intensidade das chuvas;
- Alteração de neve para chuva;
- Alteração de padrões de escoamento superficial e recarga de águas subterrâneas;
- Temperaturas mais elevadas do ar e da água;
- Elevação do nível do mar;
- Ondas de tempestades tropicais mais intensas e frequentes.
O que está, então, ao nosso alcance para ajudar a minimizar este impacto e evitar a escassez deste recurso tão precioso?
Impacto do ser humano: o que está ao nosso alcance para reduzir o desperdício de água
Nas casas dos consumidores
De acordo com a ERSAR, Portugal é considerado o segundo maior país europeu com consumo de água per capita. Apesar de sermos o país mais afetado pela seca, somos um país com um consumo médio diário de 189L de água. Chocante? Contraditório? Sim!
Com a união de esforços para reforçar a comunicação sobre o tema, o consumidor começa, finalmente, a ter uma maior consciência sobre a escassez da água e de que forma isso incita às alterações climáticas. Porém, esta comunicação não tem sido suficiente!
Os portugueses desperdiçam litros de água de forma desnecessária, pelos maus hábitos que lhes foram incutidos. Desde o gasto na cozinha, no banho, no jardim e até mesmo na lavagem dos automóveis.
Que hábitos podem ser adotados pelos consumidores?
Existem alguns hábitos que podem ser implementados por ti e, assim, ajudar a reduzir o teu consumo médio diário de água. Vamos, então, dar-te algumas dicas para começares já hoje a implementar estes novos hábitos no teu dia a dia.
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Aproveita a água de aquecer o duche para utilizar na cozinha
Recolhe a água que cai do chuveiro enquanto esta aquece. Usa um recipiente grande, como um balde.
Essa água pode ser utilizada na cozinha, como por exemplo para cozer vegetais, cereais, lavar a loiça, fazer chá, café ou para a sopa.
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Aproveita a água da lavagem dos alimentos para regar as plantas
Coloca um recipiente por baixo dos vegetais no lava-loiça. Desta forma, consegues aproveitar essa água para, por exemplo, regar as plantas durante as horas com menos sol.
Do mesmo modo, é importante ter a torneira com um fluxo de água reduzido. Podes utilizar um recipiente com água para molhar os vegetais e escová-los. Dessa forma, vais poupar alguns litros de água.
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Lava a loiça na máquina em vez de à mão
Se a loiça for lavada na máquina e o espaço for aproveitado para a lavagem do maior número de peças possível, a poupança de água pode ser significativa, em comparação com uma lavagem à mão com água corrente, ainda que com pouco fluxo.
Para quem não tem máquina da loiça, deve encher o lava-loiça com água suficiente para todas as peças. No final, basta enxaguar.
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Reinterpreta o conceito de “sujo” na cozinha
Muitas vezes, não é necessário lavar com água corrente, mas apenas passar um pano seco ou humedecido. Isto acontece, por exemplo, com a preparação e confecção de cogumelos, ou mesmo com a limpeza de alguns utensílios de cozinha.
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Utiliza apenas a água necessária para cozer alimentos
Na cozedura dos alimentos, tal como massa, ovos, legumes, entre outros, deves utilizar apenas a água necessária para cobrir os mesmos, ao invés de encher a panela de água que depois terá de ser escorrida.
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Não deites óleo pelo ralo
O óleo usado pode poluir até 1 milhão de litros de água. Por este motivo, não o deites no ralo. Este óleo vai parar aos oceanos! Em vez disso, coloca o óleo numa garrafa e leva a um ponto de recolha.
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Garante que as tuas torneiras não estão a pingar
Uma torneira a pingar de 5 em 5 minutos, durante 24 horas, pode gastar 30 litros de água por dia.
Os alimentos e a pegada hídrica: a relação entre o uso de água e a produção dos alimentos
A pegada hídrica pode ser calculada para qualquer grupo. Sejam estes consumidores, tal como famílias, um indivíduo, uma região ou cidade, ou produtores, tal como uma organização pública, empresa ou setor econômico.
Da mesma forma, pode ser calculada a pegada hídrica de cada produto. Segundo a FAO (2008), este cálculo pode referir-se a um produto, serviço ou mercadoria. O mesmo mede o volume de água doce utilizada para produzir um certo produto. Esta medição é feita no local de produção.
Não só os alimentos são compostos maioritariamente por água, como todo o percurso, desde a plantação até à colheita, necessita de água. Tendo isto em conta, vamos demonstrar-te a relação entre a produção e o consumo de água necessário para certos alimentos.
Sempre que desperdiças um alimento, casca ou sobras deves lembrar-te que estás a desperdiçar todos os recursos que foram utilizados na sua produção, entre eles, a água.
Apesar do setor agrícola em Portugal ser o maior consumidor de água, nós, enquanto consumidores, temos um papel importante para combater o seu desperdício.
Nesse sentido, temos algumas dicas e truques para ti em alguns artigos do nosso blog, para te ajudar a perceber como podes aproveitar as cascas, fazer escolhas mais sustentáveis e, até mesmo, diversas formas de conservar corretamente as tuas frutas e legumes.
O agravamento das alterações climáticas
Da mesma forma que reduzes o consumo de água, deves também praticar uma alimentação amiga do ambiente. Logo, sem desperdício, planeada e da época.
Teres consciência do impacto da tua alimentação no planeta, ajuda a reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Quanto menos desperdiças, menos emissões são emitidas para a atmosfera. O ideal é que o caixote do lixo e a reciclagem sejam a tua última opção. Deves, assim, praticar a compostagem sempre que possível.
As alterações climáticas são agravadas pelo constante aumento dos gases de efeito estufa. Entre chuvas pesadas e ondas de calor, estas alterações estão a diminuir a qualidade da água. Além disso, também estão a provocar a redução da disponibilidade dos recursos hídricos em determinadas regiões e países.
Segundo a Comissão Europeia, a Europa sofrerá inúmeras consequências, tal como:
- Ondas de calor, incêndios florestais e secas frequentes, no Sul e Centro da Europa;
- A área do mediterrâneo ficará cada vez mais seca. Como resultado, ficará mais vulnerável à seca e a incêndios florestais;
- O Norte da Europa ficará cada vez mais húmido, propício a inundações no inverno;
- Ao mesmo tempo, diversas áreas urbanas serão expostas a ondas de calor, inundações e aumentos do nível do mar. Infelizmente, todas estas áreas ainda estão muito mal equipadas para encarar estes desafios da natureza.
Segundo a ONU, 1 em cada 3 pessoas no mundo não tem acesso a água potável. Portanto, dá valor à tua 🧡
Cláudia Pinheira,
Especialista em Marketing Sustentável e Zero Desperdício